Stargazes escrita por Holly Robin
Sinopse: Tudo o que ele queria era protegê-la, mas não estaria sendo egoísta ao decidir que deveriam morrer juntos naquele navio? Não estaria se esquecendo dele mesmo? Mesmo tendo uma vida desprezível, não se julgava capaz de retirar a vida de alguém. O navio estava prestes a afundar, qual seria a melhor opção? Fugir, ou morrer junto de sua única amiga?
Classificação: +16
Categorias: Originais
Gêneros: Angst, Death Fic, Drama, Romance, Tragédia, Yaoi
Avisos: Homossexualidade
Capítulos: 1 (1.354 palavras) | Terminada: Sim
Publicada: 16/10/2013 às 01:12 | Atualizada: 16/10/2013 às 01:12
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Ele não conseguiu deixá-la naquela cidade imunda. Precisou levá-la a bordo do navio pirata.
Londres nunca foi o lugar mais agradável do mundo. Por trás de suas belas construções, havia um ninho de vermes. Pessoas rastejavam por trás de suas sombras atrás de fiapos de felicidade. Ou pelo menos da que imaginavam possuir.
Annabeth, era sua amiga. No meio daquele caos, a única de coração puro. Seu único egoísmo foi ajudá-lo. Ajudá-lo a colher as poucas migalhas que a capital ofereceu.
Mas agora ela estava segura. Por enquanto...
Mulheres não eram aceitas a bordo. Precisava manter o disfarce dela.
Enquanto sua amiga cochilava tranquilamente em seu quarto, resolveu sair para observar o céu. O fim da tarde aos poucos se aproximava. Nenhuma nuvem. O mar estava calmo.
— Quando tudo está calmo, é sinal de que algo ruim está para acontecer, não é, Ed?
Não respondeu, apenas virou-se para trás. Sempre tremia ao escutar a voz melodiosa de James Gaten. Como músico favorito do capitão, toda noite, tocava uma música antes do ‘jantar’.
— Vai ficar apenas me olhando?
— Não gosto de pensar em coisas ruins — não fazia a menor ideia do que estava dizendo. Só rezava que aquilo fosse o suficiente para ser deixado em paz.
— Para um escritor de tragédias, essa não foi a sua melhor frase — parando ao seu lado e sorrindo. – Estou pensando em cantar algo diferente esta noite.
— Como o que? — não estava muito interessado em saber, mas gostava de ver seu companheiro sorrindo.
— Uma música sobre naufrágio. O que acha?
— Macabro. Faz seu estilo.
James, não respondeu. Apenas riu. Passou a mão em seu longo cabelo loiro, e virou-se em direção à proa.
— Ah, já ia me esquecendo. Peça para o novato não fazer corpo mole. Este navio está imundo! O capitão não vai gostar.
Não queria acordar Anne. Poderia limpar tudo, mas como navegador isso não fazia parte do seu trabalho. Voltou para o quarto. Precisava acordá-la.
Mas a garota já não estava mais lá.
Olhou em volta. Nada. Apenas um livro de contos jogado sobre a cama.
Lembrou-se de quando era uma criança. Quando leu o livro pela primeira vez, ficou com medo de um fantasma assustá-lo à noite. Até passou a acreditar que um zumbi poderia ser encontrado no cemitério da cidade. Agora, sabia muito bem que essas coisas não existiam.
Por um segundo teve medo. Annabeth, não podia ser pega. Seu disfarce não era ruim. Conseguia enganar muitos. Principalmente o capitão. Provavelmente ele estaria bêbado. Antes mesmo da música terminar.
Caminhou até a cozinha. Era normal os novatos terminarem, ou no caso, ‘começarem’, os seus serviços descascando batatas. Como o capitão gostava de pão, uma grande quantidade de massa era preparada para ser assada. Alguns preferiam cuidar desta parte. Dentre estes alguns, estava Annabeth com sua barba postiça e roupas largas. Analisou o movimento de suas mãos aosovar a massa grudenta.
No futuro, quando estivessem livres da pirataria, não precisaria mais vê-la fazendo isso. Mas por enquanto, ainda a veria peneirando farinha e descascando as batatas do almoço e do jantar.
**
O jantar foi animado. A maior parte bebia e cantava ao som do violino de James. A música era triste, mas não o suficiente para comover tantos bêbados. Dentre eles o capitão, com seu chapéu amarelo e sorriso brilhante. Todos os seus dentes eram feitos de ouro.
Resolveu ir dormir. Deixou a cama desocupada para Annabeth e espremeu-se entre a estante e a cama. Conseguiria dar um cochilo.
— Boa noite, Ed — Annabeth falou ao entrar no cômodo — Não quer dormir na cama?
— Não, aqui está bom. Está cansada. Trabalhou muito.
— Você é tão gentil. Obrigada por ser meu amigo, Ed.
Fechou os olhos e virou a cabeça para o lado. Aquilo ficou parecendo uma despedida, não estavam se despedindo. Amanhã reclamaria isso com ela.
Não soube dizer por quanto tempo dormiu. Mas ainda estava escuro. Ouviu o barulho da chuva do lado de fora. Sabia que isso aconteceria quando viu o céu pela última vez.
Só que... Havia algo errado.
Saiu do quarto em silêncio e caminhou em direção ao porão. Algo dentro dele dizia que o problema estava lá.
E estava.
Mesmo estando em pé, a água já estava na altura de seus tornozelos. Não podia acreditar. O navio estava afundando enquanto todos dormiam.
Precisava fazer algo, mas não conseguia pensar em nada. Seus músculos se retesaram, era impossível se mover. Colocar algo pesado para tampar o buraco do casco não passaria de umagambiarra inútil. Uma falsa esperança.
— Fico surpreso em saber que descobriu.
Virou-se para trás assustado e deparou-se com James. Mal conseguia vê-lo devido a pouca luminosidade.
— Mas como...
— Ninguém sabe. O capitão está prestes a fugir junto com alguns companheiros. Esta é a nossa chance de sairmos vivos daqui.
— E os outros?
— Os botes não cabem todos. Melhor aproveitar enquanto ainda estão dormindo. Será uma morte rápida.
Na hora pensou em aceitar a oferta de fuga, mas não podia abandonar Anne. Não seria digno de sua parte deixá-la morrer. Mesmo que a vida dela tivesse sido um lixo, não tinha o direito de decidir isto. Enquanto respirasse, ainda teria a chance de mudar.
— Cabe mais uma pessoa no bote?
— Não. Vem logo!
Hesitou. O navio afundaria a qualquer instante. Precisava ser rápido.
— Não. Eu vou ficar.
— Mas o que?! — exclamou transtornado. — Ficou maluco?
— Pode ir. A vida de meus amigos vale mais que a minha.
— Assim seja — subindo as escadas e sumindo na escuridão.
Teve vontade de chorar. Sentiu-se um idiota por ter escolhido ficar, mas não seria covarde ao ponto de deixar Anne morrer no fundo do mar. O destino não podia ser tão cruel. Lembrou-se de sua infância. Nunca foi feliz.
Sua única companhia foram mapas e livros. As pessoas eram más. Assim como o buraco que era Londres. Nasceu entre vermes. Não precisava de coisas boas. Sonhos. Esperanças.
Sempre guardou tudo para si. Quantas vezes quis falar o que sentia, mas as palavras falhavam. A voz não saía. Era como um mudo.
Juntou um pouco da coragem que ainda restava e caminhou desanimado até o seu quarto. Morreria ao lado de sua amiga. Assim poderia se sentir um pouco mais confortável.
Abriu a porta. Não sabia quando o navio iria partir-se ao meio. Estava aterrorizado com a ideia. Pelo menos sua ami...
— James?! — não conseguiu conter o espanto. O que o loiro fazia ali no lugar de Anne, nem ele sabia dizer.
— Eu sabia que você não largaria a garota.
— Achei que não soubesse que era uma garota. Como sou idiota.
— Não gosto quando me subestimam — forçando um sorriso frustrado. — Ela está no bote junto dos que se salvaram, deixei uma sacola de moedas junto. Sendo inteligente, conseguirá se virar.
— Por que não foi junto? — perguntou sentindo seu coração acelerado.
— Eu só iria embora, caso fosse comigo.
Sentiu um frio na espinha. Não sabia se ria ou chorava. Logo agora que iria morrer. Aquilo era injusto. Quantas noites perdidas sonhando com o músico. Quantas cartas jogadas ao mar para só agora saber que poderiam ficar juntos.
— E você só fala isso agora?! — cerrando os punhos com força. Queria conseguir conter as lágrimas, mas era impossível.
— Agora que vamos morrer, eu não preciso esconder a verdade. Só poderíamos ficar juntos em um caso assim. — aproximando-se de Edgard e secando suas lágrimas. — Não fique triste — Sussurrou em seu ouvido. — Ficaremos juntos para sempre — terminou de falar com um sorriso.
Encarou James, surpreso. Adorava ver o seu sorriso. Sabia que aquele era sincero, mas não queria que tudo terminasse assim. Seria a última vez que poderia ver aqueles olhos verdes.
Não sabia ao certo quanto tempo ainda tinha, mas pela primeira e última vez tomaria coragem para fazer algo. Entreabriu os lábios e selou-os no de James, não demorou a ser correspondido. Estava feliz.
Seu último desejo havia se realizado.