domingo, 13 de abril de 2014

2º Desafio - Stargazes (escrita por Holly Robin)

Stargazes escrita por Holly Robin


Sinopse: Tudo o que ele queria era protegê-la, mas não estaria sendo egoísta ao decidir que deveriam morrer juntos naquele navio? Não estaria se esquecendo dele mesmo? Mesmo tendo uma vida desprezível, não se julgava capaz de retirar a vida de alguém. O navio estava prestes a afundar, qual seria a melhor opção? Fugir, ou morrer junto de sua única amiga?

Classificação: +16
Categorias: Originais
Gêneros: Angst, Death Fic, Drama, Romance, Tragédia, Yaoi
Avisos: Homossexualidade

Capítulos: 1 (1.354 palavras) | Terminada: Sim
Publicada: 16/10/2013 às 01:12 | Atualizada: 16/10/2013 às 01:12

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Ele não conseguiu deixá-la naquela cidade imunda. Precisou levá-la a bordo do navio pirata.
Londres nunca foi o lugar mais agradável do mundo. Por trás de suas belas construções, havia um ninho de vermes. Pessoas rastejavam por trás de suas sombras atrás de fiapos de felicidade. Ou pelo menos da que imaginavam possuir.
Annabeth, era sua amiga. No meio daquele caos, a única de coração puro. Seu único egoísmo foi ajudá-lo. Ajudá-lo a colher as poucas migalhas que a capital ofereceu.
Mas agora ela estava segura. Por enquanto...
Mulheres não eram aceitas a bordo. Precisava manter o disfarce dela.
Enquanto sua amiga cochilava tranquilamente em seu quarto, resolveu sair para observar o céu. O fim da tarde aos poucos se aproximava. Nenhuma nuvem. O mar estava calmo.
— Quando tudo está calmo, é sinal de que algo ruim está para acontecer, não é, Ed?
Não respondeu, apenas virou-se para trás. Sempre tremia ao escutar a voz melodiosa de James Gaten. Como músico favorito do capitão, toda noite, tocava uma música antes do ‘jantar’.
— Vai ficar apenas me olhando?
— Não gosto de pensar em coisas ruins — não fazia a menor ideia do que estava dizendo. Só rezava que aquilo fosse o suficiente para ser deixado em paz.
— Para um escritor de tragédias, essa não foi a sua melhor frase — parando ao seu lado e sorrindo. – Estou pensando em cantar algo diferente esta noite.
— Como o que? — não estava muito interessado em saber, mas gostava de ver seu companheiro sorrindo.
— Uma música sobre naufrágio. O que acha?
— Macabro. Faz seu estilo.
James, não respondeu. Apenas riu. Passou a mão em seu longo cabelo loiro, e virou-se em direção à proa.
— Ah, já ia me esquecendo. Peça para o novato não fazer corpo mole. Este navio está imundo! O capitão não vai gostar.
Não queria acordar Anne. Poderia limpar tudo, mas como navegador isso não fazia parte do seu trabalho. Voltou para o quarto. Precisava acordá-la.
Mas a garota já não estava mais lá.
Olhou em volta. Nada. Apenas um livro de contos jogado sobre a cama.
Lembrou-se de quando era uma criança. Quando leu o livro pela primeira vez, ficou com medo de um fantasma assustá-lo à noite. Até passou a acreditar que um zumbi poderia ser encontrado no cemitério da cidade. Agora, sabia muito bem que essas coisas não existiam.
Por um segundo teve medo. Annabeth, não podia ser pega. Seu disfarce não era ruim. Conseguia enganar muitos. Principalmente o capitão. Provavelmente ele estaria bêbado. Antes mesmo da música terminar.
Caminhou até a cozinha. Era normal os novatos terminarem, ou no caso, ‘começarem’, os seus serviços descascando batatas. Como o capitão gostava de pão, uma grande quantidade de massa era preparada para ser assada. Alguns preferiam cuidar desta parte. Dentre estes alguns, estava Annabeth com sua barba postiça e roupas largas. Analisou o movimento de suas mãos aosovar a massa grudenta.
No futuro, quando estivessem livres da pirataria, não precisaria mais vê-la fazendo isso. Mas por enquanto, ainda a veria peneirando farinha e descascando as batatas do almoço e do jantar.
**
O jantar foi animado. A maior parte bebia e cantava ao som do violino de James. A música era triste, mas não o suficiente para comover tantos bêbados. Dentre eles o capitão, com seu chapéu amarelo e sorriso brilhante. Todos os seus dentes eram feitos de ouro.
Resolveu ir dormir. Deixou a cama desocupada para Annabeth e espremeu-se entre a estante e a cama. Conseguiria dar um cochilo.
— Boa noite, Ed — Annabeth falou ao entrar no cômodo — Não quer dormir na cama?
— Não, aqui está bom. Está cansada. Trabalhou muito.
— Você é tão gentil. Obrigada por ser meu amigo, Ed.
Fechou os olhos e virou a cabeça para o lado. Aquilo ficou parecendo uma despedida, não estavam se despedindo. Amanhã reclamaria isso com ela.
Não soube dizer por quanto tempo dormiu. Mas ainda estava escuro. Ouviu o barulho da chuva do lado de fora. Sabia que isso aconteceria quando viu o céu pela última vez.
Só que... Havia algo errado.
Saiu do quarto em silêncio e caminhou em direção ao porão. Algo dentro dele dizia que o problema estava lá.
E estava.
Mesmo estando em pé, a água já estava na altura de seus tornozelos. Não podia acreditar. O navio estava afundando enquanto todos dormiam.
Precisava fazer algo, mas não conseguia pensar em nada. Seus músculos se retesaram, era impossível se mover. Colocar algo pesado para tampar o buraco do casco não passaria de umagambiarra inútil. Uma falsa esperança.
— Fico surpreso em saber que descobriu.
Virou-se para trás assustado e deparou-se com James. Mal conseguia vê-lo devido a pouca luminosidade.
— Mas como...
— Ninguém sabe. O capitão está prestes a fugir junto com alguns companheiros. Esta é a nossa chance de sairmos vivos daqui.
— E os outros?
— Os botes não cabem todos. Melhor aproveitar enquanto ainda estão dormindo. Será uma morte rápida.
Na hora pensou em aceitar a oferta de fuga, mas não podia abandonar Anne. Não seria digno de sua parte deixá-la morrer. Mesmo que a vida dela tivesse sido um lixo, não tinha o direito de decidir isto. Enquanto respirasse, ainda teria a chance de mudar.
— Cabe mais uma pessoa no bote?
— Não. Vem logo!
Hesitou. O navio afundaria a qualquer instante. Precisava ser rápido.
— Não. Eu vou ficar.
— Mas o que?! — exclamou transtornado. — Ficou maluco?
— Pode ir. A vida de meus amigos vale mais que a minha.
— Assim seja — subindo as escadas e sumindo na escuridão.
Teve vontade de chorar. Sentiu-se um idiota por ter escolhido ficar, mas não seria covarde ao ponto de deixar Anne morrer no fundo do mar. O destino não podia ser tão cruel. Lembrou-se de sua infância. Nunca foi feliz.
Sua única companhia foram mapas e livros. As pessoas eram más. Assim como o buraco que era Londres. Nasceu entre vermes. Não precisava de coisas boas. Sonhos. Esperanças.
Sempre guardou tudo para si. Quantas vezes quis falar o que sentia, mas as palavras falhavam. A voz não saía. Era como um mudo.
Juntou um pouco da coragem que ainda restava e caminhou desanimado até o seu quarto. Morreria ao lado de sua amiga. Assim poderia se sentir um pouco mais confortável.
Abriu a porta. Não sabia quando o navio iria partir-se ao meio. Estava aterrorizado com a ideia. Pelo menos sua ami...
— James?! — não conseguiu conter o espanto. O que o loiro fazia ali no lugar de Anne, nem ele sabia dizer.
— Eu sabia que você não largaria a garota.
— Achei que não soubesse que era uma garota. Como sou idiota.
— Não gosto quando me subestimam — forçando um sorriso frustrado. — Ela está no bote junto dos que se salvaram, deixei uma sacola de moedas junto. Sendo inteligente, conseguirá se virar.
— Por que não foi junto? — perguntou sentindo seu coração acelerado.
— Eu só iria embora, caso fosse comigo.
Sentiu um frio na espinha. Não sabia se ria ou chorava. Logo agora que iria morrer. Aquilo era injusto. Quantas noites perdidas sonhando com o músico. Quantas cartas jogadas ao mar para só agora saber que poderiam ficar juntos.
— E você só fala isso agora?! — cerrando os punhos com força. Queria conseguir conter as lágrimas, mas era impossível.
— Agora que vamos morrer, eu não preciso esconder a verdade. Só poderíamos ficar juntos em um caso assim. — aproximando-se de Edgard e secando suas lágrimas. — Não fique triste — Sussurrou em seu ouvido. — Ficaremos juntos para sempre — terminou de falar com um sorriso.
Encarou James, surpreso. Adorava ver o seu sorriso. Sabia que aquele era sincero, mas não queria que tudo terminasse assim. Seria a última vez que poderia ver aqueles olhos verdes.
Não sabia ao certo quanto tempo ainda tinha, mas pela primeira e última vez tomaria coragem para fazer algo. Entreabriu os lábios e selou-os no de James, não demorou a ser correspondido. Estava feliz.
Seu último desejo havia se realizado.



2º Desafio - The final act (escrita por Hairo Rodrigo)

The Final Act escrita por Hairo Rodrigo


Décadas depois ela se viu à frente daquele prédio. Daquele lugar onde aprendera a cantar, onde aprendera a amar e aprendera a temer. O que viveu dentro daquela ópera merecia ser contado em livros ou bradado em versos para todo o mundo ouvir, mas tudo o que lhe restava eram suas memórias. 

E uma vontade incontrolável de revivê-las...

Classificação: Livre
Categorias: O Fantasma Da Ópera 
Personagens: Christine Daaé
Gêneros: Death Fic, Drama, Romance, Tragédia
Avisos: Spoilers

Capítulos: 1 (1.692 palavras) | Terminada: Sim 
Publicada: 16/10/2013 às 21:50 | Atualizada: 16/10/2013 às 21:50

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The last act is bloody, however pleasant the rest of the play is:
A little earth is thrown at last upon our heads,
and that is the end forever.”
Blaise Pascal
Era arrepiante voltar àquele lugar, mesmo depois de tanto tempo. O mero ato de passar a rua em frente à antiga construção lhe trazia antigos arrepios que nunca mais achou que fossem lhe descer a espinha. Ela era velha agora. Não apenas idosa, mas realmente velha, sentindo os anos de experiência lhe pesando sobre os ombros, enquanto desejava inutilmente conseguir correr dali, e voltar a fingir que aquele lugar nunca existira. Logo aquele lugar, que tanto amava. E era para lá que rumava, decidida.
As lembranças eram por vezes claras e por vezes borradas - como se impressas sobre um papel antigo, já amarelo - e lhe atormentavam, como faziam há tantos anos. Mas o prédio antigo continuava com toda a sua indiscutível. Um tributo à beleza de um tempo que não voltaria mais, agora destoante em meio a todo aquele cenário mais moderno.
Ainda assim, ali se sentia ligeiramente mais jovem. Não com a energia sobressalente da juventude, mas com o ardor que o acelerado coração lhe trazia a face. Sentia sua pele pálida e enrugada voltar a enrubescer, e as lágrimas voltavam a beirar os cílios como há muito não faziam. Um sentimento não apenas de saudade ou de arrependimento, mas o mesmo sentimento de carinho que sentira tantos anos atrás.
A noite já passava do seu ápice e as nuvens cobriam o céu, peneirando a luz da lua e dando à rua o ar assombrado que ela aprendera a temer, mesmo que inconscientemente. Ela passou pela porta e seguiu a passos lentos, correspondentes a sua idade, pelos escuros e desertos corredores que ainda conhecia muito bem. Surpreendera-se com o quanto sentira falta de toda aquela familiaridade. Aquele fora o primeiro lugar em que descobriu seu talento, o primeiro lugar em que brilhara, o lugar onde tivera a sua primeira amiga, e onde conheceu o amor, em todas as suas formas.
Era confuso para ela estar ali, mas escolhera voltar a Paris por aquele motivo. Sabia que não podia mais atuar ou cantar como há tanto fizera, mas não podia imaginar o fim de sua vida se não ali, naquela cidade. A cidanicede das luzes, onde conhecera e se apaixonara pelas trevas. Onde aprendera que era possível admirar e temer a mesma pessoa. As crianças de hoje em dia, correm de zumbis e lobisomens... Não conhecem o verdadeiro medo, nem o verdadeiro amor.
Passou em frente às escadarias e circulou o edifício, procurando a entrada dos fundos, como fizera tantas vezes quando mais nova. A Ópera de Paris lhe havia servido de verdadeiro lar por anos a fio, e ela conhecia como sua própria casa cada centímetro daquele lugar intocado pelo feitiço do tempo.
Não conteve uma breve visita ao palco, para relembrar o auge de sua carreira, mas não pode visita-lo como gostaria. Percebeu que mesmo com o horário avançado, alguns trabalhadores ainda instalavam uma série de lâmpadas em uma barra de metal, e ela permaneceu nas sombras dos bastidores, tentando manter-se escondida. Era impossível não reviver ali as tantas apresentações que assistira e fizera parte, olhando para aquele palco mal iluminado. A música ainda lhe ressoava nos ouvidos, como nunca deveria ter deixado de ressoar.
Sentia-se transportada no tempo, ouvindo os passos apressados das produções e sentindo o cheiro do jantar, as massas por sovar sendo preparadas na cozinha para a celebração após os espetáculos.
Respirou e deixou que aquele sentimento a embalasse por pouco mais de um minuto, então deu as costas e fez o breve caminho para os seus antigos aposentos, torcendo para que permanecessem da mesma maneira. A última visita que fizera lhe dissera que não deveria se preocupar com mudanças, mas décadas depois isso não lhe dava uma verdadeira sensação de segurança. Seu coração deu um pulo quando chegou aos pés dos degraus que levavam à sua antiga porta, ainda lá, como sempre estivera. Ela não sabia que, com aquela idade, seu coração ainda conseguia saltar daquela maneira.
Ela subiu os degraus com cuidado, sentindo o corpo tremer mais do que de costume, e colocou a mão na maçaneta. Girou e respirou aliviada por acha-la destrancada. Com cuidado, abriu a porta e olhou para dentro. A escuridão e a miopia lhe atrapalhavam, mas ela percebeu que não havia ninguém no aposento. Deu mais passos inseguros e olhou a volta, lembrando-se daquela pequena sala iluminada como antes e repleta de flores. Agora, em retrocesso, ela sabia que nunca havia se sentido tão realizada quanto naquele dia.
Parou em frente ao espelho e respirou fundo. Mal conseguia ver sua imagem, mas a dele ainda estava lá, marcada para sempre em sua mente. A máscara branca que ela nunca deveria ter tirado. A máscara que escondia o verdadeiro rosto de seu ídolo, professor e - por que não? - amante. O homem que lhe aterrorizou e sequestrou, o homem que lhe ensinou a cantar a mais bela das canções e gritar o mais aterrorizante dos gritos. O rosto daquele que era, ao mesmo tempo assassino e professor, artista e monstro, anjo e fantasma.
Sentiu aquele antigo arrepio lhe percorrer o corpo quando forçou o vidro e o arrastou para o lado. A partir dali, sacou uma pequena lanterna que trazia na bolsa e iluminou aquelas escadas, outrora secretas. O piso ainda era úmido e os degraus estavam mais gastos do que ela lembrava. Naquele momento, lamentou com um riso abafado a falta de corrimãos. Apoiou uma das mãos na parede e mirou a luz para o chão, descendo com passos cuidadosos.
O caminho era longo, seus passos eram lentos e pesarosos, e sua emoção era imensurável. Nunca imaginara que estaria descendo novamente aqueles degraus, dando novamente aqueles passos e entrando tão profundamente o subsolo de sua antiga casa por uma última vez.
Ela não sabia quanto tempo levara para chegar, mas soube quando tinha chegado. Aquele fora o caminho pelo qual ele a conduzira pela primeira vez, e ela sabia que podia ser um dos poucos seguros de se percorrer, por mais longo que fosse. E quando ouviu as gotas pingando do teto e atingindo o lençol de água a sua frente, soube que podia respirar mais aliviada, sabendo que tinha tomado a decisão certa. Ela não poderia morrer sem revisitar aquele lugar.
Ela olhou a volta para a morada de seu antigo tutor, e não conteve as lágrimas que insistiram em voltar a cair. Seu antigo barco, ela viu, ainda estava no meio do lago subterrâneo. Percebeu que estava inclinado, em pé e meio afundado, como se a pouca profundidade tivesse abortado o seu naufrágio a meio caminho. Ela riu, pensando em o quão irritado ele ficaria com aquilo.
– Ele sempre fora tão perfeccionista e meticuloso... – disse ela, surpreendendo-se com a própria voz ecoando pela caverna, junto com os seus chorosos soluços.
O lugar lhe parecia estranho sem seu piano e seus instrumentos. Sem seus espelhos, suas armas e suas coisas. Ainda se lembrava de seu corpo ali, e de quando lhe devolvera o anel que ele lhe dera. Lembrava-se de seu vestido de noiva, de sua mais dolorosa escolha, e deu seu amor perdido e recuperado. Lembrava-se do beijo em sua testa fria e deformada, e das lágrimas que lhe escorreram pelas mãos.
Nunca fora capaz de entender o que sentira por ele. Seu pai e seu anjo, aquele que lhe prendera e lhe forçara a abrir mão de seu amor, e aquele que lhe amava tanto que sacrificara o próprio amor pelo dela. No fim, era um ser humano como todos os outros, e genial em si mesmo. Um grande escritor e compositor, e um incrível conhecedor da música em todas as suas facetas.Um gênio que o mundo perdeu, por não conseguir enxergar através da sua face deformada...Ela concluiu, culpada.
Ali, naquele lugar, com toda a sua idade lhe pesando nas costas e as lágrimas transbordando pelos olhos, ela finalmente entendeu tudo o que nunca entendera, e que lhe atormentara em pensamento por toda a sua vida. Ela admirara o anjo, e temera o fantasma, mas somente agora podia aceitar em paz que ela amara verdadeiramente aquele homem.
Sentiu algo que nunca sentira antes. Um calor dentro de si e um sentimento de claridade, como se toda a sua vida estivesse passado em frente aos seus olhos e todas as peças finalmente se encaixassem. Não podia dizer que se arrependia de nada, mas talvez tivesse feito algumas coisas diferentes, se tivesse a chance.
Nunca, porém, poderia se arrepender de ter cantado. Nem de tê-lo conhecido. Muito menos de tê-lo visto tão de perto. E toda a sua a vida ela devia a vida àquele homem. Ele não fora seu pai, seu marido ou o pai de seus filhos, mas ele lhe ensinara a usar aquilo que ela considerava a sua vida. Sua voz.
Finalmente, gritou.
Um grito alto, agudo, cheio de terror, angustia e melodia, mas também um grito de alivio e liberação. Sua voz ainda era doce, e ela se surpreendeu com o tom que conseguiu atingir, incrível para a sua idade. Soube ali, que seu tutor aprovaria, e se sentiria orgulhoso de sua tão amada pupila. E com um sorriso ela fechou os olhos, deixou-se deitar no chão, e ali ficou, sem mais levantar, deixando a musica da noite ecoar pelas cavernas embaixo da Ópera.
Seu corpo foi encontrado no dia seguinte por pessoas ligadas a Ópera, que encontraram os rastros do caminho da mulher. A descoberta agitou a cidade da mesma maneira que ele havia agitado tantos anos atrás. O jornal entrevistou os trabalhadores que lá estavam àquela noite, instalando uma nova gambiarra* no palco e eles relataram que ouviram, pouco antes de terminar o serviço, um grito alto, forte e agudo, mas indiscutivelmente musical, mas que não sabiam dizer de onde viera.
Ela nunca soube que a sua morte traria de volta à vida seu antigo e falecido tutor, mas aquele incidente seria para sempre lembrado como “O Último Ato do Fantasma da Ópera”.

2º Desafio - Devaneios. (escrita por BlackSwan)

Devaneios. escrita por BlackSwan


Fantasma. Música. Escritor. Naufrágio. Zumbi. Sovar. Amarelo. Peneirando. Gambiarra. Amiga. Ou a mistura em 100 palavras.

Classificação: +13
Categorias: Originais
Personagens: Personagem Original
Gêneros: Drama

Capítulos: 1 (100 palavras) | Terminada: Sim
Publicada: 13/10/2013 às 23:53 | Atualizada: 13/10/2013 às 23:53

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Foi peneirando sentimentos na gambiarra que chamo de meu coração, que aprendi que a minha única amiga se chama solidão.
Sou fruto de um naufrágio de incertezas. Sou mistura, quando os meus pensamentos cismam em sovar–me.
Sou guiado como um zumbi com dente amarelo, numa continua música sem ritmo. Sou sofrimento, quando não me olham além das ideias.
Sou um condenado, por isso arrasto as minhas correntes de fantasma pelas ruas que sempre me olham com ingratidão.
Sou cheio de ideias que não sei pôr no papel. Mas se me perguntar se sou feliz com isso, sou apenas um escritor.

2º Desafio - A Mansão Do Fim Da Rua (escrita por Last Rose of Summer)

A Mansão Do Fim Da Rua escrita por Last Rose of Summer


Jane ainda não aprendeu que alguns boatos são verdadeiros.

Classificação: +13
Categorias: Originais
Personagens: Personagem Original
Gêneros: Suspense

Capítulos: 1 (798 palavras) | Terminada: Sim
Publicada: 13/10/2013 às 01:26 | Atualizada: 13/10/2013 às 01:26

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Jane tirou mais um dos pedaços de madeira que tapavam a porta da antiga mansão: Ouvira histórias sobre o fantasma do antigo morador e apostara com sua amiga Rose que seria capaz de entrar na casa sozinha e pegar alguma coisa lá dentro, sem sair correndo depois. Era muito cética em relação à fantasmas ou assombrações, então estava confiante. Não levaria mais que meia hora para explorar tudo e então pegaria algum espólio empoeirado para esfregar na cara dela. Seria divertido.
Passou a mão pela testa e tirou uma mecha do cabelo loiro e grudento do rosto. Desobstruir a porta estava tomando mais tempo do que esperara, de início. Sentou sobre os próprios joelhos, respirou fundo e acenou para a ruiva que observava sorridente do outro lado da rua.
– Não vá desistir, hein? – Rose gritou em tom de desafio.
– Nunca! – Resmungou de volta antes de voltar ao trabalho. Passou as mãos pelo vestido amarelo, já bem sujo de terra, e resolveu que uma gambiarra se fazia necessária. Devia haver alguma coisa naquele enorme quintal que pudesse ajudá-la.
Deu a volta na mansão. Havia um canteiro de obras há muito abandonado, com algumas ferramentas enferrujadas. Ela tentou catar alguma coisa que parecesse no mínimo decente, mas a única coisa que não quebrou ao ser tocada foi uma peneira e, até onde conseguia imaginar, era impossível abrir a porta peneirando. Bufou e encarou o céu; Se não conseguisse até o pôr do sol perderia a aposta e, como consequência, teria que se vestir de Zumbi no aniversário da Mary, sendo que não era nem mesmo festa à fantasia! Para piorar a situação, tinha certeza de que sua atual paixão, Peter, estaria lá.
Peter: O rosto dele lhe veio à mente, os olhos claros e os cabelos loiros como os seus: a imagem lhe deu nova determinação e fê-la levantar. Mais uma vez, espantou a poeira do vestido e encarou os fundos. A porta de cá estava menos bloqueada, mas não estava a fim de terminar de sovar suas unhas com o trabalho duro de arrancar tábua por tábua. Não que tivesse outra escolha, uma vez que já eliminara as janelas de sua lista de opções. Suspirou, pensando no que ganharia com a aposta: um lindo salto de marca que nunca conseguiria se dependesse do salário de compositor frustrado de seu pai. Ele não compunha uma música desde a morte de sua mãe em um naufrágio e o dinheiro diminuíra drasticamente, cortando coisas que – na opinião dele – eram superficiais e desnecessárias. Isso incluíam vestidos e sapatos, maquiagem nova e celulares da moda.
Não fora fácil, mas Jane sobrevivera.
Ela levou uns bons dez minutos antes de, finalmente, conseguir terminar. A porta se abriu com um gemido assustador, mas ela encarou a escuridão com firmeza. O cômodo, pelo pouco que conseguiu enxergar, era uma velha cozinha. Ela puxou o celular da bolsa, usando-o para clarear o caminho. Amaldiçoou sua estupidez ao não levar uma lanterna, já que a luz provida pelo aparelho era tão fraca que mal iluminava sua própria mão.
Deu alguns passos incertos até, por fim, alcançar o que fora uma sala. Os móveis estavam cobertos por panos brancos, de modo que pareciam vários fantasmas estáticos. Ela olhou em volta, procurando alguma coisa que pudesse pegar. Nada.
Subiu as escadas, pulando a cada rangido. Ainda que repetisse mentalmente que fantasmas não existiam, tudo ali parecia gritar o contrário. Sua imaginação já começara a trabalhar e ela via vultos se mexendo conforme passava pelos quartos. Ela apertava o celular com força e iluminava o cômodo vacilante, mas a luz – como já percebera – era inútil. Tudo o que conseguia pensar era em achar algum objeto que coubesse em sua bolsa e sair correndo.
O corredor da vez era longo. Possuía quadros dispostos em nenhuma ordem particular, de várias paisagens diferentes. Se fosse qualquer outra ocasião ou lugar, Jane os teria admirado, mas, ali, só contribuía para a atmosfera aterradora. Acelerou o passo conforme seguia, torcendo para acabar logo. Por fim, viu-se diante de uma porta particularmente bem conservada que nem mesmo fez barulho ao ser aberta.
O que viu ali dentro foi uma surpresa: era redondo, como uma espécie de torre. Inesperado, porque não podia ser visto de fora. De certa forma, parecia ser bem mais novo que o resto da casa. Havia algumas estantes repletas de livros e uma escrivaninha com uma máquina de escrever. Jane aproximou-se, esquecendo-se subitamente do medo. Certamente que o antigo morador daquela casa fora um escritor. Será que fora famoso, ou será que fora um artista fracassado, como seu pai? Uma folha ainda estava presa à máquina e ela baixou os olhos para ler. Seus olhos bateram na primeira frase e, quase no mesmo segundo, a porta se fechou com um baque.
Jane nunca mais saiu dali.

2º Desafio - Um Início No Fim (escrita por -thais-estrela-)

Um Início No Fim escrita por -thais-estrela-


Minha versão do nosso primeiro encontro. Nada tão rebuscado, mas sincero. 
Ela parecia tão louca naquela época, mais do que agora. E nem sei o porquê de eu estar ali naquele momento. Mas ainda sim, nada vai tirar da minha cabeça a primeira imagem que tive ao vê-la. Nem em meus tempos de vivo vi coisa tão bela.

Pena que não podíamos nos tocar, ainda.

Classificação: Livre
Categorias: Originais 
Gêneros: Fantasia, Ficção Científica

Capítulos: 1 (817 palavras) | Terminada: Sim 
Publicada: 15/10/2013 às 02:19 | Atualizada: 15/10/2013 às 02:19

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Meia noite. Hora em que os zumbis saem de suas covas e iniciam sua busca carnívora. Queria eu ser um deles ou, talvez, de novo, outro mero mortal naquela noite fria e ter o sangue drenado por algum vampiro faminto. Mas o destino não o quis e eis-me ali: o bilionésimo centésimo vigésimo nono arrastador de correntes à espera do julgamento.
Após sentir o toque das mãos gélidas da morte, diferente dos que já foram citados, se você morre com algum assunto mundano pendente, nada de céu ou inferno, apenas purgatório. A partir daí se tem duas opções: ou se espera o julgamento de seus pecados, ou se procura um sensitivo caridoso que o ajude a descobrir suas pendências e dissolvê-las. E como há muita gente morta e pecadora, nada é mais tedioso do que ser um fantasma.
Nós, almas penadas, não podemos ficar divagando por aí peneirando nossas amizades porque somente médiuns conseguem nos ver. Sabe o quanto é difícil achar um sensitivo são? Provavelmente não, mas aviso que é uma tarefa árdua. Meus seiscentos e poucos anos nesta condição comprovam isto.
Então, o silêncio dela quando me viu a primeira vez soou música para meus ouvidos. Mariah vestia uma camisola semelhante a que eu usava em tempos de vida, coisa bem antiquada para uma mulher em pleno século XXI, seus fios ruivos estavam lindamente bagunçados e, juro que o copo trincado que segurava parecia belo. O fato de ela não ter esperneado ou ter jogado um dente de alho em mim (como em outras – muitas – vezes) me deixou em estado de êxtase e um fio de esperança de um dia, talvez, poder descansar em paz passou por mim. Porém logo se esvaiu de minhas células ectoplásmicas quando vi que seus passos continuaram cozinha a dentro para encher o copo de água.
– Ei, você está me vendo? – Já tinha em mente que aquele fora mais um de meus devaneios.
– Sim, mas isso não significa que eu não possa beber água quando acordo no meio da noite. – E tomou dois goles.
Pisquei algumas vezes. Ela era mais incrível do que eu imaginara. Onde, em todo o mundo mediúnico, se encontraria outra criatura daquela que falava com um fantasma como se ele fosse algum ser humano normal? Senti que necessitava dela para sair da condição de purgante e passar para anjo (ou demônio, nem me importava mais).
– Preciso. – Pensei alto.
Ela riu.
– Você é direto! Geralmente, quando meus clientes vêm me solicitar, tem uma conversa antes. Mas você chega assim, como quem não quer nada, e logo “ei, olha pra mim, eu preciso de você”. – Mariah fez alguns gestos semelhantes aos de um gorila macho mexendo os braços tentando me imitar, mas, mesmo não tendo dito as palavras que ela usou, assenti.
– Por favor. – Soltei um sorriso amarelo.
– Pois então, venda-me seu peixe! – Puxou uma cadeira e se sentou. Foi tudo tão rápido que quando vi, minha longa história já havia sido contada quase que duas vezes e com detalhes. – Então você está me dizendo que era um escritor dedo-duro de cartas para a coroa inglesa na época absolutista que morreu em um naufrágio após um ataque de piratas?
– Fora o dedo-duro, é exatamente isto. – A mulher se dirigiu a uma gaveta, pegou uma caneta e papel, colocou sobre a mesa de jantar e começou a desenvolver rabiscos. – O que você está fazendo?
– Silêncio. Preciso de concentração.
– Mas quero saber se você vai me ajudar ou não.
– E o que acha que estou fazendo?! – Ela se virou para mim, encarou-me por uns segundos e girou o corpo em direção à mesa novamente. – Estou usando um método que uma amiga me ensinou. É quase tão importante quanto o processo de sovar massa de pão! Estou traçando uma possível rota para o que pode ser o seu assunto pendente aqui na terra.
Aproximei-me para ver o resultado, esperando encontrar uma trama bem elaborada. Nunca me senti tão ingênuo ao ver que não passava de uma gambiarra bem estranha e garranchosa.
– O que acha? Será que foi isso mesmo que aconteceu? – Seus olhinhos verdes brilhavam e iluminavam ainda mais seu lindo sorriso.
– Talvez. – Respondi como se tivesse entendido o que aquela coisa (não há melhor descrição que essa) significaria.
– E então, quer que eu seja a sua mediadora?
Minha mente sofreu um verdadeiro rebuliço e eu sentia que dizer sim iria me fazer perder mais alguns anos da minha existência fantasmagórica já que, uma vez escolhido, o médium só se separa de sua alma companheira ao descobrir qual a condição que prende seu fantasma na Terra (coisa que ela não era capaz de fazer) ou ao morrer, correndo o risco de ter esta alma como um assunto pendente e se transformar também em fantasma.
Normalmente, minha resposta seria mais que imediata, mas aquele brilho em seus olhos me fez desistir.
–Lógico. – Respondi.
E foi assim que consegui minha companheira de eternidade.